27/04/08

imagine otherwise

(fotograma de "branca de neve" de João César Monteiro)



25/04/08

the great Picasso

(na foto: Françoise Gilot e Pablo Picasso)
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"then wear the golden hat, if that will move her;
if you can bounce high, bounce for her too,
till she cry "lover, gold-hatted, high-bouncing lover,
i must have you!"
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Thomas Parke D'Invilliers

vara verde com olhos

"Não sou um homem moral (embora tente manter a minha consciência em equilíbrio) nem um sábio; não sou nem um esteta nem um filósofo. Sou apenas um homem nervoso, por força das circunstâncias e dos meus próprios actos; mas sou observador. Como disse o meu querido Akuyagawa Ruymosuke, eu não tenho princípios; só tenho nervos."

Joseph Brodsky, "marca d'água", trad. Ana Luísa Faria, d. quixote

19/04/08

nouvelle vague - dance with me

Da imperfeição

“Era dia de orquestra. A orquestra vinha duas vezes por semana de uma praia vizinha. Os músicos eram magros e novos e tinham smokings velhos, ligeiramente esverdeados pelo uso e pela humidade das invernias marítimas. Eram músicos falhados: sem grande arte, com pouco dinheiro e sem fama. Deviam ser resignados ou revoltados. Espero que fossem revoltados: é menos triste. Um homem revoltado, mesmo ingloriamente, nunca está completamente vencido. Mas a resignação passiva, a resignação por ensurdecimento progressivo do ser, é o falhar completo e sem remédio. Mas os revoltados, mesmo aqueles a quem tudo - a luz do candeeiro e a luz da Primavera - dói como uma faca, aqueles que se cortam no ar e nos seus próprios gestos, são a honra da condição humana. Eles são aqueles que não aceitaram a imperfeição. E por isso a sua alma é como um grande deserto sem sombras e sem frescura onde o fogo arde sem se consumir.”

Sophia de Mello Breyner Andresen, PRAIA, in Contos Exemplares, figueirinhas, 2006

12/04/08

Duas formas de dizer

"Quando o público soube que os estudantes de Lisboa, nos intervalo de dizer obscenidades às senhoras que passam, estavam empenhados em moralizar toda a gente, teve uma exclamação de impaciência. Sim – exactamente a exclamação que acaba de escapar ao leitor...
Ser novo é não ser velho. Ser velho é ter opiniões. Ser novo é não querer saber de opiniões para nada. Ser novo é deixar os outros ir em paz para o Diabo com as opiniões que têm, boas ou más - boas ou más, que a gente nunca sabe com qual é que vai para o Diabo.
Os moços da vida das escolas intrometem-se com os escritores que não passam pela mesma razão porque se intrometem com as senhoras que passam. Se não sabem a razão antes de lha dizer, também a não saberiam depois. Se a pudessem saber, não se intrometeriam nem com as senhoras nem com os escritores.
Bolas para a gente ter que aturar isto! Ó meninos: estudem, divirtam-se e calem-se. [...] Divirtam-se com mulheres, se gostam de mulheres; divirtam-se de outra maneira, se preferem outra. Tudo está certo, porque não passa do corpo de quem se diverte [...].
Porque só há duas maneiras de se ter razão. Uma é calar-se, que é a que convém aos novos. A outra é contradizer-se, mas só alguém de mais idade a pode cometer.
Tudo o mais é uma grande maçada para quem está presente por acaso. E a sociedade em que nascemos é o lugar onde mais por acaso estamos presentes. "

Álvaro de Campos, Aviso por causa da moral *
in Fernando Pessoa, Aviso por causa da moral e outros textos de intervenção de Álvaro de Campos, Editorial Nova Ática
* Manifesto distribuído por ocasião de uma exigência feita por estudantes universitários de Lisboa no sentido de serem apreendidas as Canções de António Botto.

09/04/08

"a ternura súbita"


"David olha para Karin e diz: não pude, não soube manifestar a ternura, tudo isso que é feito de tacto e intimidade, a única coisa que conta, a única coisa que alivia da angústia e do ódio. A única coisa que suaviza o facto de estarmos neste mundo."

Ingmar Bergman, "Dependência", trad. Armando Silva Carvalho, assírio & alvim

bula livresca

"O traço definitivo de todo o poeta é sempre o espírito com que observa a Natureza e a Humanidade, o temperamento a partir do qual contempla a sua matéria. Com que têmpera e com que fé se comunicam estas coisas? A que época se molda o canto? Quais são as ferramentas do poeta, o seu engenho peculiar, os seus matizes? Em tais perguntas está sem dúvida contido o valor último daqueles que se expressaram artisticamente, tanto no passado – os estetas gregos, Shakespeare – como nos nossos dias Tennyson, Victor Hugo, Carlyle, Emerson. Digo que o melhor serviço que um poema ou um escritor qualquer pode prestar ao leitor não é satisfazer o seu intelecto, nem oferecer-lhe algo interessante e refinado, nem pintar para ele grandes paixões, indivíduos ou acontecimentos, mas inculcar-lhe vigorosa e limpa humanidade, religiosidade, dar-lhe, como possessão e hábito central, um bom coração. O mundo culto parece ter incrementado o seu tédio e fastio ao longo das épocas, trazendo essa herança para a descarregar sobre nós, Por sorte, há ainda na raça um fundo inesgotável de alegria, ao qual se pode recorrer sempre e no qual sempre se pode confiar."


Walt Whitman, "Folhas de Erva", trad. José Agostinho Baptista, assírio & alvim