12/11/16
09/06/16
como rosas purpurinas
*Cardo deriva do latim "cardus, us". Dizem que significa "fazer sinal com a cabeça", devido ao caule oscilante que suporta a florzinha. (É lá possível!)
** A casa do S. parece uma manta de retalhos, não parece?
15/11/13
22/06/13
18/02/13
WHAT A BIG WIDE WORLD
SSa
Said the sea to the little fish
“Oh your tail can really swish!”
Said the fish to the big blue sea
“Oh you take good care of me”
“Oh your tail can really swish!”
Said the fish to the big blue sea
“Oh you take good care of me”
Said the moon to the shooting star
“How wonderful you are!”
Said the star to the silvery moon
“I will make your dreams come true”
“How wonderful you are!”
Said the star to the silvery moon
“I will make your dreams come true”
Oh, it’s a big wide world
Oh, it’s a big wide world
Oh, it’s a big wide world
Oh, it’s a big wide world
Oh, it’s a big wide world
Oh, it’s a big wide world
Oh, it’s a big wide world
Said the bear to the tall green tree
“Oh I love your tasty leaves!”
Said the tree to the cuddly bear
“You can always share with me”
“Oh I love your tasty leaves!”
Said the tree to the cuddly bear
“You can always share with me”
Oh, it’s a big wide world
Oh, it’s a big wide world
Oh, it’s a big wide world
Oh, it’s a big wide world
Oh, it’s a big wide world
Oh, it’s a big wide world
Oh, it’s a big wide world
Essie Jain, WHAT A BIG WIDE WORLD
26/08/12
22/12/11
02/09/11
18/07/11
"Sou lunar de duas sombrias luas"
Eu não penso, nem me queixo, nem discuto,
nem durmo.
Não desejo nem sol, nem lua, nem mar,
nem barco.
Não penso no calor que faz entre estas
paredes,
nem como o jardim está verde;
e esse presente, que tanto desejei,
já não o espero.
Não me anima nem a manhã, nem o eléctrico
o seu tilintar alegre,
vivo sem ver o dia, esquecendo-me, do tempo,
o ano e a hora.
Sobre uma corda estragada,
eu danço – pobre dançarina.
Sou a sombra de uma sombra. Sou lunar
de duas sombrias luas.
Marina Tsvétaïeva, in Anna Akhematova, Marina Tsvétaïeva, E cantou como canta a tempestade (trad. António Mega Ferreira), Selecção de poemas de Maria Medeiros, Ass+irio & Alvim, 2007
nem durmo.
Não desejo nem sol, nem lua, nem mar,
nem barco.
Não penso no calor que faz entre estas
paredes,
nem como o jardim está verde;
e esse presente, que tanto desejei,
já não o espero.
Não me anima nem a manhã, nem o eléctrico
o seu tilintar alegre,
vivo sem ver o dia, esquecendo-me, do tempo,
o ano e a hora.
Sobre uma corda estragada,
eu danço – pobre dançarina.
Sou a sombra de uma sombra. Sou lunar
de duas sombrias luas.
Marina Tsvétaïeva, in Anna Akhematova, Marina Tsvétaïeva, E cantou como canta a tempestade (trad. António Mega Ferreira), Selecção de poemas de Maria Medeiros, Ass+irio & Alvim, 2007
__________________________________
No escritório
A lua observa-nos do lado de fora,
e repara em mim, pobre empregado,
a desfalecer sob o olhar implacável
do chefe.
Atrapalhado, coço o pescoço.
Nunca conheci um sol perdurável
em toda a minha vida.
A privação é a minha sina:
coçar o pescoço
sob o olhar do chefe.
A lua é a ferida da noite
e todas as estrelas são gotas de sangue.
A felicidade permanece muito longe de mim,
por isso a minha natureza é modesta.
A lua é a ferida da noite.
Robert Walser (Trad. Rui Manuel Amaral, com base na versão em castelhano de Matilde Sánchez e Guillermo Piro, editada no nº 61 do Diario de Poesía), retirado d' aqui.
No escritório
A lua observa-nos do lado de fora,
e repara em mim, pobre empregado,
a desfalecer sob o olhar implacável
do chefe.
Atrapalhado, coço o pescoço.
Nunca conheci um sol perdurável
em toda a minha vida.
A privação é a minha sina:
coçar o pescoço
sob o olhar do chefe.
A lua é a ferida da noite
e todas as estrelas são gotas de sangue.
A felicidade permanece muito longe de mim,
por isso a minha natureza é modesta.
A lua é a ferida da noite.
Robert Walser (Trad. Rui Manuel Amaral, com base na versão em castelhano de Matilde Sánchez e Guillermo Piro, editada no nº 61 do Diario de Poesía), retirado d' aqui.
17/07/11
cheiros que passam ao lado
"Este é o melhor cheiro do mundo, o da palha remexida, dos corpos sob a manta, dos bois que ruminam na manjedoura, o cheiro do frio que entra pelas frinchas do palheiro, talvez o cheiro da lua, toda a gente sabe que a noite tem outro cheiro quando faz luar, até um cego, incapaz de distinguir a noite do dia, dirá, Está luar, pensa-se que foi Santa Luzia a fazer o milagre e afinal é só uma questão de fungar, Sim senhores, que lindo o luar desta noite.
José Saramago, "Memorial do Convento"
José Saramago, "Memorial do Convento"
15/07/11
09/07/11
“Há uns tempos li nos jornais que um grupo de professores encontrou por acaso um inquérito que foi enviado nos anos trinta a um certo número de escolas de todo o país. Incluía um questionário sobre quais os problemas mais graves que aconteciam nas escolas. E encontraram também os formulários de respostas, que tinham sido preenchidos e devolvidos dos quatro cantos do país. E os problemas mais graves que os professores apontavam eram coisas como conversar nas aulas e correr pelos corredores. Mascar pastilha elástica. Copiar os trabalhos de casa. Coisas desse género. Então eles policopiaram uma data de exemplares e enviaram-nos para as mesmas escolas. Passados quarenta anos. Bom, algum tempo depois receberam as respostas. Violações, fogo posto, homicídio. Drogas. Suicídios. E eu ponho-me a pensar nisto. Porque muitas das vezes que eu digo que o mundo está a ir direitinho para o Inferno ou alguma coisa do género, as pessoas limitam-se a fazer-me um sorriso e dizem-me que eu estou a ficar velho. Que este é um dos sintomas. Mas cá no meu entender, se alguém não vê a diferença entre violar e assassinar pessoas e mascar pastilha elástica é porque tem um problema muito mais grave do que o meu. Quarenta anos também não é assim tanto tempo. Talvez os próximos quarenta anos façam acordar algumas pessoas da anestesia em que caíram. Se não for demasiado tarde.”
Cormac Mccarthy, "Este país não é para velhos", relógio d'água
Cormac Mccarthy, "Este país não é para velhos", relógio d'água
06/07/11
E isto basta...
# Vim ao mundo a tantos de tal, fui educado em tal sítio, fui para a escola como qualquer um, sou isto e aquilo, chamo-me fulano de tal e não penso muito. Do ponto de vista do género sou do sexo masculino, do ponto de vista do estado sou um bom cidadão e do ponto de vista social pertenço à melhor sociedade. Sou um membro impecável, pacato e amável da sociedade humana, um dos chamados bons cidadãos, gosto de beber o meu copo de cerveja sobriamente, e não penso muito. Assim, não é de espantar que de preferência coma bem e também não é de espantar que as ideias não se aproximem de mim. O pensamento arguto é-me completamente alheio.
## Não esforço particularmente a cabeça, deixo isso às outras pessoas. Quem esforça a cabeça torna-se odiado. Quem pensa muito tem fama de ser incómodo. Já Júlio César apontava o dedo grosso ao Cássio, esquelético e de olhos encovados, a quem temia porque suspeitava que ele tinha ideias na cabeça. Um bom cidadão não pode inspirar medo e suspeita. Pensar muito não é o seu ofício. Quem pensa muito torna-se mal amado e é inteiramente desnecessário ser mal amado. Ressonar e dormir é melhor do que ser poeta ou pensar. Vim ao mundo a tantos de tal, fui à escola em tal sítio, leio ocasionalmente o jornal, tenho a profissão tal e tal, tento tantos e tantos anos, pareço ser um bom cidadão e gostar de comer bem.
Robert Walser, Basta in O Passeiro e Outras Histórias (trad. Fernanda Gil Costa), Granito – Editores e Livreiros, 2001
Ubiquidade...
Vi-a em todas as linhas dos livros que li, desde a primeira vez que aqui vim quando era um rapazinho rude cujo coração tanto magoou então. Vi-a em todas as paisagens que contemplei, no rio, nas velas dos navios, nos lameiros, nas nuvens, na luz, na escuridão, no vento, nos bosques, no mar, nas ruas.
Charles Dickens, Grandes Esperanças (trad. Carmen Gonzalez), Publicações Europa América, 1975
18/06/11
VIAGENS DAS PALAVRAS
As palavras têm moda. Quando acaba a moda para umas começa a moda para outras. As que se vão embora voltam depois. Voltam sempre, e mudadas de cada vez. De cada vez mais viajadas.
Depois dizem-nos adeus e ainda voltam depois de nos terem dito adeus. Enfim – toda essa “tournée” maravilhosa que nos põe a cabeça em água até ao dia em que já somos nós quem dá corda às palavras para elas estarem a dançar.
Depois dizem-nos adeus e ainda voltam depois de nos terem dito adeus. Enfim – toda essa “tournée” maravilhosa que nos põe a cabeça em água até ao dia em que já somos nós quem dá corda às palavras para elas estarem a dançar.
José de Almada Negreiros, A INVENÇÃO DO DIA CLARO, Guimarães, 2010
AS PALAVRAS
O preço de uma pessoa vê-se na maneira como gosta de usar as palavras.
Lê-se nos olhos das pessoas. As palavras dançam nos olhos das pessoas conforme o palco dos olhos de cada um.
Lê-se nos olhos das pessoas. As palavras dançam nos olhos das pessoas conforme o palco dos olhos de cada um.
José de Almada Negreiros, A INVENÇÃO DO DIA CLARO, Guimarães, 2010
O LIVRO
# Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida. Não chegam, não duro nem para metade da livraria.
Deve certamente haver outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estou perdido.
## Comprei um livro de filosofia. Filosofia é a ciência que trata da vida; era justamente do que eu necessitava - pôr ciência na minha vida.
Li o livro de filosofia, não ganhei nada, Mãe! não ganhei nada.
Disseram-me que era necessário estar já iniciado, ora eu só tenho uma iniciação, é esta de ter sido posto neste mundo à imagem e semelhança de Deus. Não basta?
Imaginava eu que havia tratados da vida das pessoas, como há tratados da vida das plantas, com tudo tão bem explicado, assim parecido com o tratamento que há para os animais domésticos, não é? Como os cavalos tão bem feitos que há!
Imaginava eu que havia um livro para as pessoas, como há hóstias para cuidar da febre. Um livro com tanta certeza como uma hóstia. Um livro pequenino, com duas páginas, como uma hóstia. Um livro que dissesse tudo, claro e depressa, como um cartaz, com a morada e o dia.
Deve certamente haver outras maneiras de se salvar uma pessoa, senão estou perdido.
## Comprei um livro de filosofia. Filosofia é a ciência que trata da vida; era justamente do que eu necessitava - pôr ciência na minha vida.
Li o livro de filosofia, não ganhei nada, Mãe! não ganhei nada.
Disseram-me que era necessário estar já iniciado, ora eu só tenho uma iniciação, é esta de ter sido posto neste mundo à imagem e semelhança de Deus. Não basta?
Imaginava eu que havia tratados da vida das pessoas, como há tratados da vida das plantas, com tudo tão bem explicado, assim parecido com o tratamento que há para os animais domésticos, não é? Como os cavalos tão bem feitos que há!
Imaginava eu que havia um livro para as pessoas, como há hóstias para cuidar da febre. Um livro com tanta certeza como uma hóstia. Um livro pequenino, com duas páginas, como uma hóstia. Um livro que dissesse tudo, claro e depressa, como um cartaz, com a morada e o dia.
José de Almada Negreiros, A INVENÇÃO DO DIA CLARO, Guimarães, 2010
11/06/11
Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!
Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas
do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia...
como
uma pobre lanterna que incendiou!
Mário Quintana, d'aqui
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!
Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas
do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento
da Poesia...
como
uma pobre lanterna que incendiou!
Mário Quintana, d'aqui
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