Eu não penso, nem me queixo, nem discuto,
nem durmo.
Não desejo nem sol, nem lua, nem mar,
nem barco.
Não penso no calor que faz entre estas
paredes,
nem como o jardim está verde;
e esse presente, que tanto desejei,
já não o espero.
Não me anima nem a manhã, nem o eléctrico
o seu tilintar alegre,
vivo sem ver o dia, esquecendo-me, do tempo,
o ano e a hora.
Sobre uma corda estragada,
eu danço – pobre dançarina.
Sou a sombra de uma sombra. Sou lunar
de duas sombrias luas.
Marina Tsvétaïeva, in Anna Akhematova, Marina Tsvétaïeva, E cantou como canta a tempestade (trad. António Mega Ferreira), Selecção de poemas de Maria Medeiros, Ass+irio & Alvim, 2007
nem durmo.
Não desejo nem sol, nem lua, nem mar,
nem barco.
Não penso no calor que faz entre estas
paredes,
nem como o jardim está verde;
e esse presente, que tanto desejei,
já não o espero.
Não me anima nem a manhã, nem o eléctrico
o seu tilintar alegre,
vivo sem ver o dia, esquecendo-me, do tempo,
o ano e a hora.
Sobre uma corda estragada,
eu danço – pobre dançarina.
Sou a sombra de uma sombra. Sou lunar
de duas sombrias luas.
Marina Tsvétaïeva, in Anna Akhematova, Marina Tsvétaïeva, E cantou como canta a tempestade (trad. António Mega Ferreira), Selecção de poemas de Maria Medeiros, Ass+irio & Alvim, 2007
__________________________________
No escritório
A lua observa-nos do lado de fora,
e repara em mim, pobre empregado,
a desfalecer sob o olhar implacável
do chefe.
Atrapalhado, coço o pescoço.
Nunca conheci um sol perdurável
em toda a minha vida.
A privação é a minha sina:
coçar o pescoço
sob o olhar do chefe.
A lua é a ferida da noite
e todas as estrelas são gotas de sangue.
A felicidade permanece muito longe de mim,
por isso a minha natureza é modesta.
A lua é a ferida da noite.
Robert Walser (Trad. Rui Manuel Amaral, com base na versão em castelhano de Matilde Sánchez e Guillermo Piro, editada no nº 61 do Diario de Poesía), retirado d' aqui.
No escritório
A lua observa-nos do lado de fora,
e repara em mim, pobre empregado,
a desfalecer sob o olhar implacável
do chefe.
Atrapalhado, coço o pescoço.
Nunca conheci um sol perdurável
em toda a minha vida.
A privação é a minha sina:
coçar o pescoço
sob o olhar do chefe.
A lua é a ferida da noite
e todas as estrelas são gotas de sangue.
A felicidade permanece muito longe de mim,
por isso a minha natureza é modesta.
A lua é a ferida da noite.
Robert Walser (Trad. Rui Manuel Amaral, com base na versão em castelhano de Matilde Sánchez e Guillermo Piro, editada no nº 61 do Diario de Poesía), retirado d' aqui.
Sem comentários:
Enviar um comentário