20/08/10

das nuvens brancas, leves e minúsculas no céu azul

- Não sei, - gritei sem proferir um som, - realmente não sei. Se não vem ninguém, então não vem ninguém. Eu não fiz mal a ninguém, ninguém me fez mal a mim, mas ninguém me vai ajudar. Um punhado de ninguéns. Mas não é exactamente assim. Apenas ninguém me ajuda, de outro modo um grupo de ninguéns seria até bem-vindo; eu sem dúvida preferiria ir numa excursão com um grupo de ninguéns (o que é que acham?) às montanhas, claro, onde é que havia de ser? Olhem para esses ninguéns, empurrando-se uns aos outros, os pés separados por passos minúsculos! É desnecessário dizer que todos vestem sobrecasacas. Caminhamos tão felizes, um vento agradável assobia por entre os espaços dos nossos corpos e membros. Nas montanhas as nossas gargantas tornam-se livres. É de admirar que não comecemos a cantar.

Franz Kafka, Descrição de uma luta (Trad. Isabel Risques e Ana Sofia Nobre), Coisas de Ler, 2004

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