17/10/09

Et c'est ça...

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Astrov - [...] À nossa volta é só gente esquisita, todos, sem excepção; vivemos ao pé deles dois ou três anos e, sem darmos por isso, ficamos também uns esquisitões. É fatal como o destino. (Retorce os bigodes compridos.) Olha só que bigode enorme... Bigode estúpido. Tornei-me um esquisitão, mãe Marina... Aparvalhar não me aparvalhei, [...] mas os sentimentos é como se ficassem embotados. Não quero nada, não preciso de nada, não gosto de ninguém... Talvez só de ti.
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Vóinitski - [...] O homem anda há vinte e cinco anos a ler e a escrever sobre arte, mas não percebe patavina de arte. Anda há vinte e cinco anos a mastigar as ideias dos outros sobre realismo, naturalismo e outros disparates; há vinte e cinco anos que anda a ler e a escrever coisas que os inteligentes já sabem há muito e que os parvos não querem saber... o que significa apenas isto: durante vinte e cinco anos, foi como chover no molhado.
Anton Tchékhov, O Tio Vânia - Cenas da vida aldeã em quatro actos (Trad. Nina Guerra e Filipe Guerra), Relógio D'Água

11/10/09

e eu acho que só tenho aqui comigo um cachimbo...

Quando sonhamos, devemos manter sempre os pés assentes na natureza, mesmo no que diz respeito às pessoas, caso contrário facilmente chegamos ao ponto em que deixamos que uma personagem diga coisas como: "Sai daqui e mata-te." E falas destas suscitam uma careta, e fazer caretas é ridículo e tende a desfigurar mesmo o sonho mais bonito.
Robert Walser, Os irmãos Tanner (trad. Isabel Castro e Silva), Relógio d' Água