09/04/08

bula livresca

"O traço definitivo de todo o poeta é sempre o espírito com que observa a Natureza e a Humanidade, o temperamento a partir do qual contempla a sua matéria. Com que têmpera e com que fé se comunicam estas coisas? A que época se molda o canto? Quais são as ferramentas do poeta, o seu engenho peculiar, os seus matizes? Em tais perguntas está sem dúvida contido o valor último daqueles que se expressaram artisticamente, tanto no passado – os estetas gregos, Shakespeare – como nos nossos dias Tennyson, Victor Hugo, Carlyle, Emerson. Digo que o melhor serviço que um poema ou um escritor qualquer pode prestar ao leitor não é satisfazer o seu intelecto, nem oferecer-lhe algo interessante e refinado, nem pintar para ele grandes paixões, indivíduos ou acontecimentos, mas inculcar-lhe vigorosa e limpa humanidade, religiosidade, dar-lhe, como possessão e hábito central, um bom coração. O mundo culto parece ter incrementado o seu tédio e fastio ao longo das épocas, trazendo essa herança para a descarregar sobre nós, Por sorte, há ainda na raça um fundo inesgotável de alegria, ao qual se pode recorrer sempre e no qual sempre se pode confiar."


Walt Whitman, "Folhas de Erva", trad. José Agostinho Baptista, assírio & alvim

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