02/06/08

vento e contravento, contravento e vento

"Mas a cena das duas pessoas a entrar no táxi e a satisfação que me deu fizera-me também perguntar se há dois sexos no espírito que correspondam aos dois sexos no corpo e se eles também necessitam de estar unidos para alcançarem uma plena satisfação e felicidade. E comecei, diletantemente, a esboçar a teoria de que em cada um de nós actuam duas forças, uma masculina e uma feminina; e no espírito do homem predomine o homem sobre a mulher, e no da mulher predomine a mulher sobre o homem. O estado normal e confortável da existência é aquele em que os dois vivem juntos em harmonia, cooperando espiritualmente. Se um é homem, a sua parte feminina interior deve ter um significado; e uma mulher deve também ter uma relação com o homem que existe nela. Coleridge talvez se referisse a isto quando disse que um grande espírito é andrógino. É no momento em que toda esta fusão ocorre que o espírito é totalmente fecundado e utiliza todas as suas faculdades. Talvez um espírito que seja puramente masculino não possa criar mais do que cria um espírito puramente feminino, pensei."
Virginia Woolf, "um quarto só para si", trad. Maria de Lourdes Guimarães, relógio d'água

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