24/02/09
El hombre imaginario
El hombre imaginario
vive en una mansión imaginaria
rodeada de árboles imaginarios
a la orilla de un río imaginario.
De los muros que son imaginarios
penden antiguos cuadros imaginarios
irreparables grietas imaginarias
que representan hechos imaginarios
ocurridos en mundos imaginarios
en lugares y tiempos imaginarios.
Todas las tardes imaginarias
sube las escaleras imaginarias
y se asoma al balcón imaginario
a mirar el paisaje imaginario
que consiste en un valle imaginario
circundado de cerros imaginarios.
Sombras imaginarias
vienen por el camino imaginario
entonando canciones imaginarias
a la muerte del sol imaginario.
Y en las noches de luna imaginaria
sueña con la mujer imaginaria
que le brindó su amor imaginario
vuelve a sentir ese mismo dolor
ese mismo placer imaginario
y vuelve a palpitar
el corazón del hombre imaginario.
Nicanor Parra
vive en una mansión imaginaria
rodeada de árboles imaginarios
a la orilla de un río imaginario.
De los muros que son imaginarios
penden antiguos cuadros imaginarios
irreparables grietas imaginarias
que representan hechos imaginarios
ocurridos en mundos imaginarios
en lugares y tiempos imaginarios.
Todas las tardes imaginarias
sube las escaleras imaginarias
y se asoma al balcón imaginario
a mirar el paisaje imaginario
que consiste en un valle imaginario
circundado de cerros imaginarios.
Sombras imaginarias
vienen por el camino imaginario
entonando canciones imaginarias
a la muerte del sol imaginario.
Y en las noches de luna imaginaria
sueña con la mujer imaginaria
que le brindó su amor imaginario
vuelve a sentir ese mismo dolor
ese mismo placer imaginario
y vuelve a palpitar
el corazón del hombre imaginario.
Nicanor Parra
22/02/09
Não sei nada
“Conheço as palavras pelo dorso. Outro, no meu lugar, diria que sou um domador de palavras. Mas só eu - eu e os meus irmãos - sei em que medida sou eu que sou domado por elas. A iniciativa pertence-lhes. São elas que conduzem o meu trenó sem chicote, nem rédeas, nem caminho determinado antes da grande aventura.
Sim. Conheço as palavras. Tenho um vocabulário próprio. O que sofri, o que vim a saber com muito esforço fez inchar, rolar umas sobre as outras as palavras. As palavras são seixos que rolo na boca antes de as soletrar. São pesadas e caem. São o contrário dos pássaros, embora “pássaro” seja uma das palavras. A minha vida passou para o dicionário que sou. A vida não interessa. Alguém que me procure tem de começar - e de se ficar - pelas palavras. Através das várias relações de vizinhança, entre elas estabelecidas no poema, talvez venha a saber alguma coisa. Até não saber nada, como eu não sei.”
Ruy Belo, "todos os poemas - vol. I", Assírio & Alvim
Sim. Conheço as palavras. Tenho um vocabulário próprio. O que sofri, o que vim a saber com muito esforço fez inchar, rolar umas sobre as outras as palavras. As palavras são seixos que rolo na boca antes de as soletrar. São pesadas e caem. São o contrário dos pássaros, embora “pássaro” seja uma das palavras. A minha vida passou para o dicionário que sou. A vida não interessa. Alguém que me procure tem de começar - e de se ficar - pelas palavras. Através das várias relações de vizinhança, entre elas estabelecidas no poema, talvez venha a saber alguma coisa. Até não saber nada, como eu não sei.”
Ruy Belo, "todos os poemas - vol. I", Assírio & Alvim
20/02/09
Arcos de luar
Xilofone
“Jogo infantil. Água de madeira. Princesas a fiar no jardim, raios de luar.”
“Jogo infantil. Água de madeira. Princesas a fiar no jardim, raios de luar.”
Uma traição inqualificável
“O meu único inimigo, provocador e brigão, era o vento. Quase todas as noites, antes de entrar no meu quarto, deixava-o silvar alegremente abraçado a um poste da rua, ou entretido com os papéis que pastavam pela calçada. Mas, mal eu me despia, e a cadeira complacente sacudia o pó e abria os braços para me receber, o vento começava a bater violentamente contra a janela, tentando insinuar-se por alguma fenda, ou abri-la à força; a minha janela, porém, cruzava bem os seus dois rudes e únicos dedos, e mofava do vento.”
“O meu único inimigo, provocador e brigão, era o vento. Quase todas as noites, antes de entrar no meu quarto, deixava-o silvar alegremente abraçado a um poste da rua, ou entretido com os papéis que pastavam pela calçada. Mas, mal eu me despia, e a cadeira complacente sacudia o pó e abria os braços para me receber, o vento começava a bater violentamente contra a janela, tentando insinuar-se por alguma fenda, ou abri-la à força; a minha janela, porém, cruzava bem os seus dois rudes e únicos dedos, e mofava do vento.”
A agradável consigna de Santa Huesca
“[…] É um vulgar tiquetaque que ora saltita, ora pergunta, ora se concentra esgrimindo um livro, ora derruba um carro eléctrico que segue à cabeça da multidão. Este tiquetaque não tem a ver com as mortes nem com a história. Feitas as contas, vai ao que os outros vão.”
“[…] É um vulgar tiquetaque que ora saltita, ora pergunta, ora se concentra esgrimindo um livro, ora derruba um carro eléctrico que segue à cabeça da multidão. Este tiquetaque não tem a ver com as mortes nem com a história. Feitas as contas, vai ao que os outros vão.”
J.F. Aranda, Os poemas de Luis Buñuel (trad. Mário Cesariny), Assírio & Alvim
01/02/09
Quando a criança era criança
Quando a criança era criança
andava com os braços a baloiçar.
Queria que o ribeiro fosse um rio,
que o rio fosse uma corrente,
e que esta poça fosse o mar.
Quando a criança era criança,
não sabia que era criança.
tudo era cheio de vida
e toda a vida era uma.
Quando a criança era criança,
não tinha opinião de nada.
Não tinha hábitos, ficava muitas vezes
sentada de pernas cruzadas,
fugia, tinha um remoinho no cabelo
e não fazia uma cara sorridente
quando tirava fotografias.
Excerto do poema do Peter Handke, dito no início do filme "As Asas do Desejo" ("Der Himmel Über Berlin", 1987), Wim Wenders.
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