15/02/11

Elogio da Língua

"A Eufémia Troncha catava-o, fingia estalinhos insecticidas, fazia-lhe com a unha titilações, atritos suaves no casco da coroa , inventava para o nutrir e inflamar carícias e guisados, surpreendia-lhe o apetite com fricassés muito aromáticos, tinha meiguices e candonguices duma donzela que afaga pombinhos entre os seios virginais, decotava o corpete dos vestidos para lhe escaldar o sangue, fazia trejeitos lascivos de gata que se rebola escandecida nos telhados - uma cróia velha com muita experiência sublinhada. Ao príncipio, o abade agradecia com mocanquices, correspondia-lhe com exuberância de abraços, adormentava a sua dor abeberado das saudades de Felícia, e, às vezes, repulsando uma ideia funesta, murmurava: "Que a leve o diabo! que a leve o diabo!" e agarrava-se ao pescoço nédio de Eufémia como a uma forte prancha de nau descosida e escalavrada. E ela:
- Meu idolatrado . . .
E babujava-lhe de beijos húmidos a cara espaçosa."


Camilo Castelo Branco, "A Corja", Europa-América

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