07/01/08

a despropósito

"Visualizou o Manoel de Oliveira provocando inquietação nos clientes daquele bar, na noite em que o tinha conhecido. O portuense estava realizando um filme sobre o pão. Uns dias antes, observara algo que o tinha posto em transe. Tratava-se de um operário que intervinha numa dada fase de produção do pão, e que adquirira um ritual notável em matéria de autotaylorização. O Manoel de Oliveira tinha-se levantado da cadeira e começara a mimar esse ritual, no qual desempenhava papel de relevo um «passo travadinho». E nesse passo, o realizador percorria o bar. Para cá e para lá, para cá e para lá. Como se tratava dos movimentos que ocupavam a maior parte de um viver humano, o Manoel de Oliveira repetira a sua imitação o tempo suficiente para que a clientela do bar ficasse desconfortável."

Nuno Bragança, "directa", D. Quixote

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