25/05/08

Da floresta...

"O meu nome é Marie e venho do Emental [...]. Trabalhei muito, porque sou forte. Tudo o que via e ouvia depressa me pareceu frio, estranho e pequeno. Nunca compreendi aquilo a que os outros chamam vida. As pequenas lágrimas e as pequenas risadas dos outros pareciam-me cada vez mais e mais estranhas, mais e mais incompreensíveis. Nao participava nas suas alegrias precipitadas, não percebia os seus sofrimentos. Sempre fui calma e contida. Nunca me senti assustada ou inquieta. Nunca tive medo de nada. As pessoas começaram a evitar-me como se eu fosse um fantasma; mas eu nunca perdi a calma, e nunca a perderei. Aqui na floresta sinto-me bem. Não gosto de pessoas. [...] Nunca quis ferir ninguém com a minha maneira de ser. Nasci assim, mas as pessoas julgam sempre que somos o que somos por intenção nossa. Mas isso não me inquieta muito, e hoje, que estás comigo, não me inquieta mesmo nada. És bom [...] e confias em mim. És tranquilo e não tens medo de mim."

Robert Walser, Histórias de amor, Relógio d' Água (Trad. Isabel Castro Silva)

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