28/05/08

Não compreendem nada

Entrei no barbeiro e disse - calmamente:
«Tenha a amabilidade, penteie-me as orelhas.»
Num repente o barbeiro pelado virou conífera eriçada,
a sua cara alongou-se como uma pêra.
«Ele é tolo!
Anormal!» -
e as palavras foram-se aos saltos.
O insulto ressaltava de ganido em ganido,
e lon-on-ongamente
uma espécie de cabeça fez troça,
extraída da multidão, como um velho rabanete.

Vladimir Maiakovski, "33 poesias", trad. Adolfo Luxúria Canibal, quasi

1 comentário:

Anónimo disse...

Não é Maiakovski mas é Anna Akhmátova:

"Vinte um. Segunda-feira. É noite

Vinte um. Segunda-feira. É noite
No escuro uns contornos de cidade.
Algum vagabundo escreveu
que na terra pode haver amor.

E por tédio ou perguiça,
todos acreditaram e assim vivem:
esperam encontros, temem adeus
e cantam canções de amor.

Mas a outros revela-se o enigma,
e o silêncio repousará sobre eles...
Descubri isto por acaso
e desde esse momento sinto-me mal."