18/07/08

aves combatentes de bochechas vermelhas

Não lhes foi difícil encontrar a praça onde haveria as execuções: o povo convergia para lá de todas as direcções. Naquele século grosseiro, aquilo era um espectáculo dos mais divertidos, não só para a plebe mas também para as classes superiores. […]
No primeiro plano, ao lado dos soldados de bigodaça que constituíam a guarda municipal, estava um jovem szlachcic que vestira uma farda militar e tudo, mas tudo, o que tinha lá em casa para vestir, com excepção de uma camisa rota e de umas botas velhas. Pendiam-lhe do pescoço duas correntes com uma moedinha. Estava com a namorada e, volta e meia, olhava ao redor para que ninguém sujasse o vestido de seda da menina. Explicava-lhe tudo, mas tudo, exaustivamente. “Olhe, alminha – dizia ele –, aqui está o povo que veio ver a execução dos criminosos. E aquele homem que a menina vê ali e que tem nas mãos a acha e outros instrumentos é o carrasco que vai executar os criminosos. Antes, durante o suplício da roda, o criminoso ainda estará vivo, alminha, só morrerá de uma vez quando lhe cortarem a cabeça. Antes disso vai gritar e estrebuchar, mas quando o decapitarem já não poderá gritar, comer ou beber, porque, alminha, já não terá cabeça.” E a menina ouvia tudo com medo e curiosidade.

Nikolai Gógol,Tarás Bulba, in Mírgorod (trad. Nina Guerra e Filipe Guerra), Assírio & Alvim

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