17/07/08

papoulas breves

Vincent Van Gogh, Butterflies and Poppies, San Remy, 1890

sabes, as aves aquáticas já não pernoitam junto ao mar
nem por entre os nossos dedos de areia
sobem-nos vozes calcárias à garganta, estrangulo-me neste
humilde canto, fico atento ao eterno silêncio do teu castelo

às vezes escuto o teu cantar, raramente, é certo… mas quan-
do cantas saem-te nomes puros da boca e sorrisos diáfanos
de cristais
os lábios incendeiam-se com vinho, teu corpo adquire o sa-
bor misterioso das algas
no crepúsculo expande-se o pefume a moreia frita, teu
olhar é o mosto dos nossos desejos

dançamos à roda de um mastro, saia em papel de seda borda-
da com búzios… uma quadra flutua pela noite de nossos cabelos
rodopias, e os teus amores são relembrados pela noite adiante
espalham-se estrelas cadentes, papoulas breves, junco mo-
lhado
e o mar enche-se novamente de pássaros, embarcações se-
melhantes a beijos que nos percorrem de alegria

Al Berto, Degredo no Sul, Assírio & Alvim

Sem comentários: