22/11/08

porcos-espinhos prateados

As únicas palavras que a abriam eram as palavras abafadas dos poetas, tão raramente proferidas pelos seres humanos. Somente elas a penetravam sem despertar os guardas eriçados, de vigia aos portões, trajados como porcos-espinhos prateados, armados de desconfiança, barrando o caminho que levava aos recessos secretos dos seus pensamentos e emoções.
Diante da maior parte das pessoas, da maior parte dos lugares, da maior parte das situações, da maior parte das palavras, o ser de Djuna, de dezasseis anos, fechava-se hermeticamente no silêncio. As sentinelas eriçavam-se: vem aí alguém! E todas as passagens que conduziam ao seu interior se fechavam.
Hoje, enquanto mulher adulta, conseguia perceber que essas sentinelas não se tinham limitado a defendê-la – tinham construído verdadeiros fortes sob essa máscara de branda timidez, fortes com buracos camuflados que escondiam armas construídas pelo medo.

Anaïs Nin, os Filhos do Albatroz (Trad. Tânia Ganho), Bico de Pena

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